Sentados nas escadas do palácio, Chixe e Nanixe ali despontavam do sono, como em noites semelhantes de que se lembravam e estavam acostumados. Após o esfrego dos olhos, começaram a avivar as memórias e perceberam pela azia sentida a raspar-lhes as narinas que a noite, não sendo confortável, serviu-lhes de descanso por força das bolachas com que se refastelaram, acompanhadas do doce palheto. Só por isso valeu a pena o esforço e a viagem que, com as suas ovelhinhas e maridos, fizeram, apesar de um sentimento esquisito de rejeição por parte do distinto chefe de gabinete e sua secretária que aproveitados da anestesia do momento os remeteram à insignificância das escadas do palácio.
O facto intrigou-os mas logo foram abordados pelo motorista do dia anterior que lhes indicou novo caminho prometendo que o processo estava a adiantar-se e assim sendo, bastava seguirem as instruções. Desta vez, encaminhados ao andar inferior, bateram à porta. Com todas as cautelas, pois estavam em ambiente citadino e ainda por cima de capital, não queriam causar má impressão mostrando-se roucos e engasgados por causa da palheta, provocando-lhes vibrações de ares nas cordas vocais, que camuflaram com esforço.
Apesar de tudo, a receção não poderia ser melhor. Desta vez, o doce, mais apurado, e as bolachas decoradas com coraçõezinhos cor de rosa, tudo servido em bandeja, pelo ar, rica e fina, deram novo alento aos dois, desconhecendo nesta hora o paradeiro do rebanho, objeto primordial do assunto que ali os levara. Decidiram interpelar o tal motorista que, de um lado para o outro, ia fazendo isto e aquilo e, segundo o entender deles, pouco mais que nada, pelo menos que se visse. Mostraram então as suas apreensões principalmente acerca dos bichos e das bichas, pois habituados a rações de hora marcada, não poderiam ater-se, com todo o respeito, às andaduras da cidade.
A fusca e a malhada
A fusca e a malhada
Comentários
Enviar um comentário
Faça o seu comentário ou sugestão...