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Bacalhau assado

Bacalhau assado com batatas a murro

Sem murro, as batatas deixam de o ser – a murro. Entende-se, neste caso, “a murro” o choque entre mãos após devida assadura da batata, deixando-se esta gretada, fendida, rasgada, estalada. O toque deve ser breve e convicto de quem pela experiência conseguiu absorver o conhecimento. Saber é o mais importante, mas nem sempre se liga ao saber a sabedoria de conhecer e, deste modo, “dar o murro” não é para qualquer um ou qualquer uma! Tenham lá feito, em tempos longínquos, o que as avós fizeram, nem sempre o que fizeram o fizeram bem feito e, por isso, o que assaram ou cozeram, malgrado o sacrifício, a sofreguidão e a vontade de comer, trespassou o tempo até aos dias de hoje envolto em ideias gourmet de bom gosto, tradicionais, da cozinha da avó confundida em qualidade e requinte culinários. É preciso, imperioso saber-se e isso não é para qualquer um, qualquer uma, vamos lá ser precisos.
Desde muito cedo, vem a batata a murro acompanhada de bacalhau assado, desse que imaginamos suficientemente corpulento, oriundo das águas frias do Norte, em quarenta e oito horas demolhado, de lombos gloriosamente lascados e substâncias glutinosas a transpirarem dos seus ossos espinhados. Não me venham com a história da badana a não ser se em três minutos cozida ou em batatas do vizinho – à espanhola. 
O sal deverá sentir-se no bacalhau sem que se transfira às batatas, trocando-se os modos, e não sujeitá-lo ao branqueamento exagerado, sendo verdade que comer-se encomendado para o dia seguinte ao calendarizado, os riscos da bagatela aumentam consideravelmente para quem mal aprendeu com a avozinha ou não tem brio pela cozinha.
Para quem vagueie pela serra, entre as fragas pagãs de Panóias, em Vila Real e o santuário de Nossa Senhora da Saúde, em Saudel, S. Lourenço, não fosse a proibição do fogo, recomendar-se-ia, trazido de casa, a assadura do dito na clareira da Mamoa de Madorras, em Vilar Celas, mesmo ao lado do trilho dedicado a Miguel Torga, onde podem observar-se, contrariando a fantasia da desertificação do interior, o elevado número de caganitas dos coelhos e as esfocinhadas javalinas.
Na foto: Mamoa de Madorras, em Vilar Celas.

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