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Má experiência no “Pote Barrosão”

Má experiência ao almoço, em Montalegre, no restaurante “O Pote Barrosão”

Saímos relativamente cedo de Vila Real, no dia 26 de janeiro de 2020, em direção a Montalegre, precisamente no último dia da feira do fumeiro, de fito feito no restaurante mencionado, e ao seu cozido à barrosã, refeição aí já experimentada no ano anterior, parecendo-nos poder ser incluída dentro da normalidade dos parâmetros de qualidade do tão propalado cozido na zona do Barroso, tal como em outras circunstâncias no restaurante “Sol e Chuva”, nos Pisões,  no “Dias”, em Parafita, no Costa, dentro da vila, ou na Casa do Ferrador, em Alturas de Barroso, este no concelho de Boticas.
Conhecendo o facto de que não haveria a possibilidade de marcação de mesa e que a entrada para a sala de jantar é feita como se se tratasse de assistir a um espetáculo qualquer, pagando antecipadamente a importância de vinte euros por pessoa, sem a troca sequer de um simples "ticket" de pagamento, mesmo assim, conhecendo as regras, de certo modo compreendendo-as, lá fomos na fila subindo escadas, sentando-nos numa mesa qualquer sem um simples olhar indicador das funcionárias, muito menos sorriso, pois a azáfama era de tal maneira stressante que, também neste particular, nos pareceu tudo compreensivo.
Já à mesa, notámos a quentura do lugar, o que seria um bom prenúncio para uma refeição descontraída, à conversa com a família, apesar de se notar a rapidez de quem nos servia, percebendo-se que o empreendimento é levado com uma certa organização de modo a abreviar-se o almoço, pois uma segunda leva de clientes surgirá não tarda muito e a sala completar-se-á pela segunda vez. Mas tudo isto, não envolvendo grande dignidade à transmontaneidade, é de certo modo tolerável, para um dia final de festa do fumeiro com muitos forasteiros a acorrerem a Montalegre e a necessidade de angariação de um bom dinheiro. Tudo isso se compreende.
Mas, ainda não tínhamos alcançado o meio da degustação do cozido, fomos sujeitos ao final de refeição de elementos de duas grandes mesas, do outro lado da sala que, até aí, mal se ouviam, tal era a ocupação dos comensais, na trinca das carnes e, pelos vistos, no precipício do vinho e do bagaço. Primeiro, já alguns barulhos fora do normal e bocas trocadas entre mesas e sons estridentes e pouco recomendáveis se foram ouvindo. Logo de seguida, sobretudo vozes de mulheres, mas também pelo menos um dos homens não se coibiram de, libertinamente e sem qualquer mostra de respeito, se sobreporem ao direito de todas as outras pessoas de comer uma refeição descansada, tendo-se submetido a sonoridades e sotaques nada parecidos a qualquer sotaque transmontano, em vozes com cantilenas sucessivas que não eram mais que berros entremeados de impropérios, fazendo com que na minha mesa, e certamente em todas as outras, não se conseguissem ouvir as nossas vozes, na tal conversa familiar que era suposto acontecer. Sei que exageros acontecem. Este, no entanto, ultrapassou todas as marcas. 
Solicitei a presença da senhora que me pareceu gerir aquele espaço, se não mesmo a dona do restaurante. Mostrei-lhe a minha indignação e dos familiares que me acompanharam à feira de Montalegre, enquanto os berros se faziam ouvir cada vez mais alto, numa boçalidade que nunca tivera visto em outro lugar. Na nossa breve conversa, fazendo um esforço para me fazer ouvir, não constatei da parte da senhora do restaurante qualquer pingo de respeito pela nossa indignação, nem uma palavra de desculpa, sequer, pois com medo ou por outra qualquer razão não fez a advertência suficientemente forte para pôr termo à balbúrdia e à vozearia.
Os boçais, finalmente, decidiram quando quiseram a altura de sair daquele espaço, o que já não adiantou para repor a satisfação e o entusiasmo que nos acompanharam de Vila Real a Montalegre. Decidimos trazer a metade do almoço para nossas casas.
Em tempo, calcorreei com deslumbre a encosta inóspita, mas belíssima, entre a aldeia de Cabril e a Lagoa, lá para o alto da serra do Gerês. Impressionaram-me especialmente as silhuetas dos rochedos na contraluz do horizonte, e a lagoa, que mais tarde pintei a óleo sobre tela, como mostro na imagem, em artigo sobre Trás-os-Montes. Dei a minha pequeníssima colaboração num filme retrospetivo da História do Gerês, desempenhando eu mesmo o personagem de um simples homem barrosão. Acompanhei a equipa de filmagem ao velho mosteiro de Pitões das Júnias. Desde 2006, dentro das minhas possibilidades, tenho divulgado em websites, neste momento através deste blogue, a região transmontana, num interesse muito especial à região norte de Trás-os-Montes, nomeadamente à região do Barroso, sendo eu natural de S. Lourenço de Ribapinhão, do concelho de Sabrosa, a viver em Vila Real. Fotos e vídeos de Trás-os-Montes, inclusivamente de Montalegre, das suas barragens, dos seus lugares lindíssimos e paisagens únicas são conteúdos por mim inseridos com gosto em canal do YouTube. Tenho mantido significativas falas de admiração pela região dos barrosões, amizade especial com dois deles: saudosos Manuel Henriques Pires Fontoura e sua esposa Adelina, naturais da vila de Montalegre a quem prestei singelíssima homenagem, nesse mesmo dia, no cemitério junto ao castelo. A perseverança desse grande barrosão deu-me alento para fazer este alerta público às gentes do Barroso, à senhora do restaurante que devo respeitar, e respeito verdadeiramente, pedindo-lhe que faça algum esforço para não deixar o seu restaurante e a sala de jantar que é tão bonita caírem no domínio da boçalidade de alguns, mal educados, insurretos.
“Montalegre é a vila mais atrativa do distrito” – esta é a frase que sobressai no sítio do Município de Montalegre. 
Sr. Presidente do Município, Prof. Manuel Orlando Fernandes Alves: ouvi-o na televisão e gostei de ouvi-lo. O interior, e Montalegre não é exceção, carece de investimento, naturalmente. O investimento económico levado a bom termo com as feiras de fumeiro é um facto indesmentível, não tendo pretensões, sobretudo neste domínio, a fazer quaisquer reparos. É pena, no entanto, que a transmontaneidade especial do Barroso e de outras regiões transmontanas dê pequenos sinais de deterioração no que respeita ao bem-receber. Naquele dia não me senti, nem eu nem a minha família, minimamente bem-recebidos. Com humilde respeito, Sr. Presidente, não pode deixar-se que a frase acima referida caia na simples trivialidade. Reconhecendo que as exceções não determinam a regra, continuo a achar que o património mais valioso das Terras de Barroso são as pessoas e as suas raízes culturais, numa atitude de bem-receber. Não se deixe desvirtuar esse valioso património.

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