Chixe e as ovelhas, na capital

Nanixe e o caso do Chixe

Depois de algumas paragens na autoestrada, de comerem todo o farnel que levavam e bebido todo o vinho do garrafão, já anoitecia quando chegaram finalmente à capital. Chegados à avenida principal, ficaram deveras surpreendidos Chixe e Nanixe, não com a movimentação da cidade – um autêntico buliço, tal como tinham imaginado –, mas com os ares emproados das três ovelhas que, observando o exterior através dos respetivos postigos do atrelado, iam gesticulando com as patas da frente, murmurando sorridentemente entre si e, com enorme espanto, agora também do dono do carro de aluguer, verificaram que as três agradeciam os olhares amistosos dos transeuntes a dançarem uns com os outros, que saíam para jantar, ir ao teatro ou ao cinema. Chixe e Nanixe, habituados ao convívio com os animais, nunca tinham visto coisa assim, pois agora até piscavam os olhos e, segundo o taxista, seria uma espécie de alergia aos reclames luminosos que começavam nesse momento a trabalhar na máxima intensidade. Chixe, apesar do respeito que mostra pelo taxista, mas não querendo rebaixar-se àquelas sabedorias, atirou-se altivo, olhando arregalado para o amigo Nanixe como a obrigá-lo a anuir à sua própria cultura geral, dizendo que não, nada disso. O que se passa é que estas ovelhas vieram à capital porque são as mais inteligentes e as que melhor representarão o rebanho, quando forem recebidas no ministério ou secretaria. E Chixe continuou afirmando que as piscadelas são sinais de contas de cabeça, assim demonstrando as ovelhinhas preocupação com tanta gente na rua a divertir-se e àquelas horas tardias da noite. Não é a primeira vez que isto acontece, pois em noites estreladas quando permanecem até mais tarde na esplanada do curral, fazem do mesmo modo a contagem das estrelas, até cansarem as cabeças, adormecendo. Cada qual ficou na sua, enquanto percorriam agora uma rua estreita, parando logo de seguida junto a uma portada de ferro ferrugento, mal-amanhada para uma casa da cidade. Nanixe, reservado e desconfiado da situação nova e Chixe desgostando que alguém se lhe sobreponha nos conhecimentos dos animais, assim como as próprias ovelhas percebem ter chegado a casa do tal conhecido do taxista que tem como profissão dar voltas às leis.

A casa do conhecido do taxista