A história da carga perdida e o desassossego na boda
(Segundo episódio)

De cada vez que distribui a farinha pelos clientes, destes reúne mais sacos de
grão, iniciando um novo ciclo de trabalho.
Pressente a tia Alice Carolina pelo restolho que alguém se aproxima, não sendo
necessário grande força de pensamento para adivinhar as intenções de quem
chegava. Bem sabia do casamento da sobrinha e não era de estranhar que alguém
ali lhe trouxesse o carolo. Enquanto limpa o suor da testa, sorri de imediato
aos rapazelhos que trazem consigo a cestinha. Logo os mandou entrar,
dizendo-lhes para esperarem um pouco. Naquele instante, que teria para
oferecer aos meninos? Ainda por cima bem satisfeitos com tanta comida boa lá
na festa do casamento. Lembrou-se de uma botija do saudoso marido. Ninguém
mais lhe tocara. Era agora o momento de lhe dar uso e retribuir o esforço da
caminhada que os três moçoilos fizeram.
Apresenta-lhes assim uma garrafa meio cheia sobre um mocho de madeira velha
que, ali mesmo ao lado da mó, serviria como mesa de honra aos pequenos
visitantes. Três copinhos de formato antigo envolviam a dita garrafa,
juntamente com a preocupação da tia Alice:
– É tudo o que de melhor posso oferecer-vos, mas tende cuidado meus meninos,
pois mal sempre faz o que é tido em demasia.
*Taramela: peça de madeira que bate sobre a mó do moinho enquanto esta gira,
também conhecida por “tremelo”.
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