A história da carga perdida e o desassossego na boda
(Sétimo episódio)

Mulheres, homens, crianças, todos gritavam e questionavam os dois rapazes sobre o que acontecera com o terceiro, sem que fossem dadas respostas claras e convincentes.
Há que ir à procura do menino. O que terá sucedido?
Após algumas hesitações, lá vão então de novo em direção ao moinho os dois rapazelhos, a burrica, sempre pronta a dar uma mão, e dois adultos mais afoitos. Uma vez mais, o animal toma conta do andamento, parecendo entender a urgência em encontrar o menino que sobre o seu lombo vinha acomodado.
Por ali abaixo, tinham já feito mais de metade do percurso e, para espanto de todos, a burra fica subitamente especada junto a um combro, assentado numa curva apertada e num dos lugares mais íngremes. Na base do combro contrária ao caminho, um denso giestal encobria o menino deitado. Uma réstia do vermelho da camisa foi a sorte para enxergá-lo. Aproximaram-se aflitos! Dormia o menino com leve sorriso na face. Estava bem. Tão bem que acordou desperto e fresco, um pouco confuso, não sabendo no entanto que fora projetado do colo da burra.
Gritaram de alegria! O menino estava ali, parecendo capaz, sorridente, mas logo tombou de novo, num sono profundo, pois a cura completa por via da botelha não ocorrera ainda. Incansável, a burrica deixa que lhe coloquem no lombo o corpito franzino novamente adormecido. Projeta nos ares do vale apertado um forte zurro com três partes, que ecoou pelo leito do rio, como sinal de partida e dissesse “vamos embora, toca a subir e entregar o menino”. E assim foi. Aí estavam as pernas rijas da burra a galgar monte acima, numa cadência difícil de acompanhar. Rapidamente arribaram ao destino e ao que restava da festa do casamento, debaixo da enorme preocupação pelo menino.
“Abrenúncio! O que se passa? Mas que foi isto? O que aconteceu?” – eram as expressões soltas e gritos lamuriosos dos convidados, aterrorizados perante o triste cenário que se lhes deparava.
“Escarrapachado em cima da burra, o rapaz não estaria nada bem! Desgraça!”
Mas não, felizmente. O menino estava ótimo. Apenas um pouco atordoado depois do sono profundo!
Sentindo a falta do embalamento das ancas do animal, acordou quase restabelecido, embasbacado no meio de tanto queixume, e sorriu novamente, desta vez para o avô que o contemplava absorto, embevecido numa espontânea série de caretas e duas lágrimas que se lhe soltaram.
Depois de tanto desassossego, em suspiros de alívio, tudo acabou bem!
Este é o fim da história baseada em factos verídicos, mas como diz o ditado, quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto!
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