Excerto do livro "Bisalhães - Anatomia de um Povo"
de Maria Emília Campos e Duarte Carvalho
Situada a cerca de 8 km para sudoeste de Vila Real, entre a cidade e o Marão, na margem direita do rio Gorgo e assente nas primeiras e ainda muito esbatidas pregas da serra, encontra-se uma pequena e típica aldeia de oleiros - Bisalhães. Pertencente à freguesia de Mondrões, com a qual confronta a norte, a aldeia de Bisalhães confronta a sul com a freguesia de Torgueda, a poente com a freguesia de S. Miguel da Pena e a nascente com um pequeno ribeiro, afluente da "Ribeira de Machados".
Conhecida desde sempre como centro oleiro, a aldeia de Bisalhães chegou a ter,
desde que há memória, 75 homens a trabalhar o barro, uns por conta própria,
outros "à jorna", o oleiro que ia trabalhar ao dia, por conta de outrém.
Trabalhava na sua roda, mas era ao patrão que competia transportá-la de casa
do oleiro para a sua. Por vezes a roda era transportada pela mulher do oleiro.
A comida podia ser por conta própria ou ser fornecida pelo patrão. Ao oleiro
que trabalhava aos dias, competia apenas fazer a louça, enquanto que ao patrão
competia trabalhar o barro, cozer e vender a louça.
Hoje, em Bisalhães, apenas trabalham o barro 8 oleiros e um "escultor" (assim
chamado por não fazer as peças habituais, mas sim pequenas esculturas), todos
por conta própria, embora, nos primeiros tempos, alguns tenham trabalhado ao
dia. As suas idades variam entre 58 e 73 anos.
Para além da olaria, em Bisalhães trabalha-se no campo. Todos têm o seu
lameiro, as suas terrinhas, que vão amanhando quando e como podem. Cultivam-se
árvores de fruto, batatas, milho e hortaliças. Há quem faça vindima e use
ainda o lagar.
As mulheres dos oleiros, além de ajudarem na "arte" (transportando lenha,
picando o barro, gogando as peças e ainda ajudando a vendê-las), também
trabalham no campo. Em casa, na loja, "sevam" o porco para matar no Inverno,
lá para Dezembro. Com as carnes, fazem gostosos salpicões caseiros, linguiças,
moiras e alheiras, tudo curado através do fumo, constituindo o chamado
"fumeiro". Nas salgadeiras, conservam algumas carnes a consumir mais tarde:
costelas e ossos, orelheira e unha. A matança do porco constitui motivo de
reunião e convívio de familiares e amigos, hábito que é comum a todas as
aldeias transmontanas.
in Bisalhães - Anatomia de um Povo, de Maria Emília Campos e Duarte Carvalho
Edição: Centro Cultural Regional de Vila Real, Agosto 1999
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