Muito se exigia da panela de barro preto!
Desde conservar sangue de porco antes da enchida, fazer o arroz das vessadas, cozer as batatas ou o caldo, muito se exigia da panela de barro preto!
Nas longas noites de Inverno, em que a chuva tocada a vento se abatia sobre a
telha vã da cozinha, rezava-mos o terço, enquanto as castanhas coziam doces e
farinhudas na panela redonda. Ao terminar as orações obrigatórias estavam as
castanhas no ponto de ser comidas, como se mão invisível articulasse esta
sincronia infalível. A alguma distância do tresfogueiro, o pichorro grande
aveludava o vinho para nossa companhia e das castanhas.
À volta do fogo, para o qual tudo convergia, a tia comandava a oração e nós
respondíamos de forma acelerada, a avó num latim distorcido e o avô no canto
do escano, mantinha-se de olhos fechados e em silêncio, como se meditasse
profundamente. A concentração e o recolhimento eram sempre quebrados por um
gato, que inspirado no maligno (no dizer da minha avó), abria caça aos ratos
por essa altura, o que aumentava a confusão.
Entre ameaças e raspanetes, era sempre com alívio (devo confessá-lo!) que
terminávamos o terço e atacávamos as castanhas e o vinho, momento em que o avô
despertava, manifestando mais devoção pelo pichorro, do que pela panela. (...)
Excerto de informação contida em ficha técnica, propriedade da NERVIR -
Associação Empresarial
Redacção de Alberto Tapada e Filipe Saiote
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