Piteira Santos, filho de barrosão e nome grande na Amadora
por Barroso da Fonte
Fernando António Piteira Santos, patrono da Biblioteca da Amadora, nasceu em 23-01-1918, na Amadora, mas era filho do barrosão Vitorino Gonçalves dos Santos, natural do concelho de Montalegre. A mãe - Leonilde Bebiana Piteira Santos - nascera em Lisboa, de família oriunda de Ançã. Esta senhora que fora católica praticante, familiarmente tratada por «Mãe-toni», faleceu em 26-02-1963, pouco tempo depois do filho ter partido para o exílio.
O pai, valoroso republicano, foi promovido, por distinção, ao posto de tenente da GNR, sendo posteriormente transferido para o exército, de onde se reformou, como major. Foi agraciado com a Ordem Militar de Avis e com a Torre de Espada, falecendo em 27-02-1943.
O seu biógrafo escreve que Vitorino Gonçalves dos Santos «herdou de seus pais traços marcantes das suas personalidades, ressaltando a inteireza de carácter e de fidelidade a princípios, faceta que se coaduna com a atitude do filho, ao renegar o nome e a herança de seu pai, Sebastião Ataíde de Melo e Castro, por este ter abandonado sua mãe, Florinda dos Santos, de origem popular». Seu pai chegara a ser proprietário da histórica Casa do Cerrado, em Montalegre.
Piteira Santos casou em 31-07-1940 com Cândida Ventura que foi futuro quadro militante clandestino do PCP, de quem veio a divorciar-se, em 19-07-1947. Voltou a casar em 7-02-1948 com Maria Stella Biker Correia Ribeiro. Esta já era separada de Inácio Fiadeiro, igualmente antifascista e com dois filhos: António (afilhado de Álvaro Cunhal) e Maria Antónia, afilhada de Piteira Santos.
O novo casal deixa a Amadora, em 1952 e muda-se para Lisboa. Entre 1962 e 2-5-1974, regressa do exílio, em Argel. Piteira Santos ingressa na Faculdade de Direito, mas ao 2º trimestre transfere-se para a Faculdade de Letras e matricula-se em Ciências Histórico-Filosóficas. Por causas relacionadas com a prisão política só acaba o curso superior muito depois.
Em 21-04-1938 funda o Bloco Académico Antifascista MUNAF da área do PCP. Passa à clandestinidade e, em 1943, é designado para o comité Central do PCP. Volta a ser preso no congresso seguinte. Faz-se membro do MUD e, em 1950, é afastado do PCP. Em 1956 é cofundador da Sociedade Portuguesa de Escritores. Em 1962 participa no Golpe de Beja e passa à clandestinidade. Mais tarde fixa residência em Argel. Aí funda, com outros, a Frente Patriótica de Libertação Nacional. Chega a encontrar-se com Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Eduardo Mondlane e Samora Machel. Integra a equipa da Rádio Voz da Liberdade e dirige o jornal Liberdade, órgão central da FPLN. Regressa a Portugal, em 2 de Maio de 1974 e funda, com Manuel Alegre e outros, os centros Populares 25 de Abril. Torna-se o diretor-geral da Cultura Popular e espetáculos e, em 1974/75, diretor de Serviços culturais da Câmara de Lisboa. Foi diretor-adjunto do Diário de Lisboa, colaborou em jornais, como: República, Diário Popular, Seara Nova, Vértice, etc. Depois de um período muito fértil em publicações de interesse público abrandou a atividade partidária e dedicou-se a projetos de interesse público.
Faleceu em Lisboa aos 76 anos. Boaventura de Sousa Santos, diretor do Centro de documentação 25 de Abril, coordenou a exposição «Fernando Piteira Santos: Português Cidadão do Século XX». Joaquim Moreira Raposo, presidente da Câmara de Amadora, elogiou descomplexadamente este Barrosão e apoiou a construção da Biblioteca com o seu nome. Dela recolhemos os dados que ficam.
Leu-se na «Exposição Fernando Piteira Santos – Português, cidadão do Século XX – uma pátria é um território cultural». Manteve sempre uma atitude crítica e atenta relativamente à sociedade em geral, e essa atitude é bem visível em tudo o que escreveu a nível político, social e cultural sobre o país.
Há uma feliz coincidência no percurso revolucionário de Piteira Santos. Depois de passar por Marrocos, fixa-se em Argel. Aqui conhece outros cérebros decisivos para a operacionalização do processo da autodeterminação dos povos africanos, nomeadamente sob o domínio português. Se para esse processo já Bento Gonçalves, barrosão de Fiães do Rio (Montalegre) havia contribuído remotamente, outros nomes, com ligação a Barroso e a Trás-os-Montes, se ajuntaram à Frente Patriótica de Libertação Nacional: Amílcar Cabral e Agostinho Neto. Quatro nomes de Barrosões dos mais influentes na autodeterminação dos Povos africanos intervieram nesse processo que originou o chamado «fim do império português». Vale a pena insistir na invocação desses quatro cidadãos e cidadãs da região do Alto Tâmega, mas com incidência no concelho de Montalegre. Por ordem de antiguidade citamos esses nomes: Bento Gonçalves, Piteira Santos, Maria Helena Ataíde Vilhena Rodrigues (mulher de Amílcar Cabral) e Maria Eugénia Neto (mulher de Agostinho Neto). Há que fixar estes nomes que vão permanecer, para sempre, como atores principais da emancipação Luso-Africana.
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