Manuel Fontoura: primeiro discurso na Assembleia da República, em 1978
Excerto 3Via férrea – Que dizer o que foi até hoje a linha do Corgo? Pelo seu traçado sinuoso, pelo seu obsoleto, inestético e incómodo material de tracção em circulação, digno de museu, é um verdadeiro atentado feito a todos quantos trabalham e vivem nessas pobres terras.
Digo até hoje porque, desde há dias, entraram em funcionamento novas
locomotivas Diesel, que para já só têm a vantagem de não pegar fogo às matas e
vinhas das propriedades limítrofes, pois o restante material continua a ser o
mesmo, onde o aquecimento no Inverno não existe e a chuva e a neve são muitas
vezes visitantes incómodos.
Soubemos e alegramo-nos com a notícia de que brevemente este material de
transporte vai ser substituído com gradual alteração e rectificação do actual
traçado.
Quero neste momento solidarizar-me com a tristeza e naturais apreensões das
humildes gentes de algumas povoações utentes da linha do Corgo que com estas
inovações vêem passar o comboio que agora não pára, talvez para ser mais
rápido, entre Régua – Vila Real – Chaves, sem as servirem, ainda que
deficientemente. Permito-me, assim, alertar a CP para a indispensabilidade em
manter servidas essas povoações, algumas das quais sem outro meio de
comunicação com os maiores centros.
Via aérea – Aeródromos – Tem o Distrito de Vila Real dois Aeródromos: Chaves e
Vila Real. Se o primeiro ainda se mantém operacional, o segundo há já bastante
tempo que a sua pista de construção recente foi considerada imprópria, por não
reunir as condições mínimas de segurança, para continuarem a realizar-se os
voos semanais Porto – Chaves – Vila Real – Lisboa, que muito beneficiariam a
região.
Face a tal situação, impõe-se:
1º. – A regularização do piso da pista de Vila Real, que terá de ser efectuado
mediante uma recarga de betuminoso sobre o pavimento;
2º. – Equipamentos de rádio para ligação terra-ar dos dois aeródromos.
Para além disso, e para que efectivamente o aeródromo de Vila Real responda
cabalmente ao fim para que foi feito, conviria dar solução:
a) À construção de um modesto edifício para aerogare;
b) À ampliação da pista em cerca de 200 metros, por forma a ficar operacional
a aviões de maior “calado”.
Apelamos para a boa vontade da Direcção-Geral de Aeronáutica Civil para
financiar os empreendimentos enunciados, tão modestos se nos afiguram.
Via fluvial – Rio Douro – Sobre a navegabilidade do rio Douro, que dizer?
Pedir apenas que se acelerem as obras de adaptação em curso e se ultimem os
estudos das restantes.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, sabemos do muito que pedimos, mas que nada é
comparado com o muitíssimo que necessitamos. Para terminar, quero relembrar as
palavras do Dr. Mário Soares quando, na qualidade de Primeiro Ministro do I
Governo Constitucional, disse:
“Trás-os-Montes nunca mais precisará de mendigar o progresso a que tem
direito.”
Supomos que, pela demora, já fizemos jus a tal direito, e só vencidas estas
dificuldades poderemos ver chegar finalmente o progresso e desenvolvimento a
terras de Trás-os-Montes.
Seremos sempre os esquecidos. Foi uma pena a desactivação da linda e tortuosa linha do Corgo.
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