Na formação de Portugal:
Preponderante o papel de Santos Portugueses
por Barroso da FonteO Grupo dos Amigos da Piconha nasceu dia 19 de Fevereiro de 2005, durante uma confraternização entre Transmontanos, mais ligados à Região de Barroso. Começou por uma aposta entre dois dos presentes, sobre quem ganharia as eleições legislativas do dia seguinte. Quem perdeu, pagou. Para engrossar o grupo, começaram por convidar os restantes membros da mesa. Depois o homenageado desse dia, mais um por isto e mais outro por aquilo. Fixou-se o grupo em doze casais. Vivem dispersos por todo o país: Lisboa, Gaia, Porto, Guimarães, Chaves. Mas para epicentro elegeu-se Tourém, no concelho de Montalegre. E, para pretexto das várias reuniões culturais, gastronómicas e turísticas, escolheu-se o simbolismo histórico do Castelo da Piconha que foi Português até ao Tratado dos Limites, em 1864, que pretendeu endireitar as fronteiras entre Portugal e a Espanha. Como sempre acontece em partilhas, uns ganham e outros perdem. Portugal perdeu Olivença, o Castelo da Piconha e outros, tendo recebido, em troca, os povos promíscuos de: Soutelinho da Raia, Cambedo e Lamadarcos, na fronteira com a Galiza. Até essa data o Castelo da Piconha, ao qual já D. Sancho I, concedera foral, tendo na época medieval uma importância em nada inferior ao único (da vila) que resta, dos três que o concelho tinha.
Mais tarde criou-se o Couto Misto de Rubiás, formado pelos termos de quatro freguesias: Meaus, Santiago e Rubiás, mais Tourém que sempre fora e quis continuar a ser português. Era essa uma espécie de principado, tipo Andorra, com estatuto autónomo, onde todos os fora-de-lei, poderiam refugiar-se, excepto homicidas ou ladrões.
Já que politicamente não podemos refazer as fronteiras medievais, contentemo-nos com aquelas que o Tratado dos Limites acordou. Virtualmente podemos, contudo, acabar com as fronteiras que tantos problemas causaram no Estado Novo e, na prática, manter esta boa vizinhança Galaico-Portuguesa que se estabeleceu desde o Conde D. Henrique e que a adesão à União Europeia, eliminou para certos fins. Sempre foram boas as relações Luso-Galaicas. Ainda recentemente se formalizou o Fórum Luso-Galaico, com sede em Chaves, como se avançou para a realização do campeonato Europeu de Futebol, em projecto Ibérico que poderia ser vantajoso para os dois povos irmãos.
No último dia 27 esse Grupo da Alcaidaria da Piconha reuniu na Casa dos Braganças. E, tal como havia feito em Junho, programou uma visita a santuários de cultura, como Alhariz e Celanova. Os dias pequenos e frios não deram para mais. Mas deu para atravessar Alhariz, com a promessa de voltar, seguindo para a Celanova – Mosteiro de S. Salvador (Província de Ourense), fundado por S. Rosendo, um santo português, nascido em 26/11/907, em S. Miguel do Couto, actual concelho de Santo Tirso. Foi nomeado Bispo de Dume e de Mondonhedo em 925. Fundou o Mosteiro de Celanova em 936/942 e em 960, o de Monte Córdova. Em 955 teve necessidade de assumir o governo civil e militar da Galiza. Em 967 recolheu a Celanova como monge. Em 17 de Janeiro desse ano fez testamento e, em 1 de Março seguinte, faleceu e foi sepultado em Celanova. Foi canonizado em 1173 pelo cardeal Jacinto Bobone Orsini.
Uma Guia muito competente fez-nos uma visita guiada ao Mosteiro e deu para ver que Celanava é um ponto de encontro com a cultura e, sobretudo, com a História Ibérica. Tudo ali gravita em torno desse Monumento religioso, (herança de um Português), que alberga hoje uma série de serviços religiosos, políticos, culturais e sociais. Aí celebrou Afonso Henriques, em 1143, um acordo com o primo. Aí se localiza uma página eloquente da importância Portuguesa.
S. Rosendo fez também obra em Portugal. Esteve ligado ao Mosteiro de Pitões das Júnias (Montalegre). Dezassete anos depois de S. Rosendo nascer, veio ao mundo uma sua prima: Santa Senhorinha de Basto que ficou órfã de mãe muito cedo e que foi criada por uma ilustre Senhora de nome Godinha. Era a filha mais nova do Conde Avulfo, natural de Vieira do Minho, conde e senhor do território de Vieira e de Basto, entre os rios Minho e Douro. Esta Santa Portuguesa, prima de S. Rosendo, fez muitos milagres. Deles e dela fala o Padre Torquato Peixoto de Azevedo, no livro Memórias Ressuscitadas da Antiga Guimarães (1622-1705).
Não poderia terminar esta nota de reportagem, como elemento activo da Alcaidaria da Piconha, sem abrir o apetite aos Transmontanos para que conheçam e tenham orgulho naquilo que membros da Igreja Católica, na época medieval, fizeram por Portugal.
Além dos dois (S. Rosendo e Santa Senhorinha), citamos outros, não menos importantes: S. Teotónio (que nasceu em Ganfei, Valença do Minho, em 1082) que foi aliado de Afonso Henriques, sobretudo na construção do Mosteiro de Sta. Cruz de Coimbra (1132). Foi canonizado um ano depois, como o 1º Santo Português. Tivemos ainda mais dois santos: S. Torcato, morto a golpes de espada pelo islamita Muça, em Guimarães, em Fevereiro de 719. E, antes dele, S. Dâmaso (305-384), que terá nascido onde hoje se situa Guimarães e que chegou a Papa, no século IV. Jaz nas catacumbas de Roma, que já tive o privilégio de visitar.
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