Portugal adveio de um processo fraternal
por Barroso da Fonte

Por Barroso da Fonte, foi escrito este texto, e enviado ao NetBila, no dia 24 de Junho de 2011, data em que se completaram 883 anos da Batalha de S. Mamede, travada em Guimarães, após um processo quase ensaiado 268 antes.
Ou seja: Portugal adveio de um processo fraternal que povos ancestrais foram
preparando para que a emancipação se transformasse com quietude e
naturalidade.
Em 868 deu-se a reconquista cristã, com Vímara Peres a ser designado primeiro
titular daquela porção de terreno que ocupava a parte poente do Império
Asturo-Galaico-Leonês.
Onde desagua o Rio Douro existia uma povoação conhecida por Cale que tinha
influência fulcral para a entrada e saída daqueles que viviam do mar e
pretendiam sossegar em terra firme, ou que, vivendo em terra, utilizavam o mar
para viagens mais distantes.
Desse movimento de entradas e saídas nasceu o Portus de Cale que daria
Portuscale e mais tarde Portugal.
Sete foram os titulares desse Condado que entre Vímara Peres e Nuno Mendes,
neto da Mumadona Dias, desempenharam a chefia dessa zona geográfica que tinha
a sede entre Gaia e Porto, ou mais propriamente, a parte que mais cedo se
desenvolveu e tinha o epicentro onde se situa a Sé do Porto. Mais tarde,
transformou-se esse porto em porta de entrada e de saída dos inimigos da
religião católica, motivos suficientes para a sede do condado se retirar para
Guimarães, zona do interior que passara a dispor de estruturas de defesa,
tarefa que coube a Mumadona, mulher de Hermenegildo Gonçalves, um dos mais
dinâmicos e perseverantes condes galegos.
Em 1061, o seu neto e substituto, Nuno Mendes, querendo expandir-se e
emancipar-se, travou guerra com o rei Garcia da qual saiu vencido e morto.
Acabou aí o primeiro Condado Portugalense e Afonso VI, de Leão reagrupou todo
o antigo Império Asturo-Leonês.
Mas em 1096 Afonso VI casa a filha Teresa com o Conde D. Henrique e, em dote
de casamento, reabilita o antigo Condado doando-o ao Conde que, ao tornarem-se
independentes na figura do filho D. Afonso Henriques, na Batalha de S. Mamede,
passariam à História como primeiros Condes Portugueses.
O Conde D. Henrique terá falecido em 1114 ou em 1112. Diz a tradição que
quando ele faleceu o filho teria entre 2 a 3 anos. E esta dúvida, que nunca
foi desvendada, tem contribuído para muitas complicações e polémicas
históricas.
Seja como for, com a morte do Conde D. Henrique, D. Teresa amantizou-se com
Fernão Peres de Trava. E o filho não gostou porque ela e o padrasto puxavam o
Condado, de novo, para a Galiza, ao contrário do filho que pretendia tornar-se
independente. Eis a razão por que se travou, em Guimarães, junto ao Castelo,
onde o Infante habitava, a Batalha de S. Mamede. O Filho saiu vitorioso.
E não mais parou até 6 de Dezembro de 1185, ano da sua morte. Em 1143, o
primo, Rei de Espanha, reconheceu a Independência desse Condado com o nome de
Portugal. A Santa Sé, só fez esse reconhecimento em 1179.
As fronteiras do país que hoje somos levaram anos a clarificar. Sempre
«hermanos», mas nunca satisfeitos com as guerrilhas entre espanhóis e
portugueses, ainda hoje celebramos datas decisivas como a Batalha de
Aljubarrota, em 14 de Agosto de 1385 e o 1º De Dezembro de 1640.
A celebração mais importante é o aniversário da Batalha de S. Mamede, em 24 de
Junho de 1128.
Coincidiu, anualmente, com o S. João. Se Portugal fosse um Povo culto,
coerente e consensual essa data seria considerada feriado nacional e não
apenas um feriado em Guimarães. Em Braga e Porto, é feriado por razões
religiosas: S. João. Em Lisboa é Santo António, em 13 de Junho.
Outra data que deveria celebrar-se, nacionalmente, é o 25 de Julho, que a
tradição diz ser aquele em que nasceu Afonso Henriques.
Infelizmente andamos todos a brincar com datas que nada dizem e esquecem-se
aquelas que mais significado têm.
Enquanto a História se cumpre e o país envelhece, a população minga no país
real, aumenta nas grandes urbes. Trás-os-Montes e todo o interior do país
prospera com os poucos resistentes, nas áreas das artes e das letras. Mas
desertifica-se porque a população, em meio século, reduziu-se a um terço. O
último censo vai surpreender tudo e todos. E já há vozes a reclamarem o
Iberismo, como solução para salvar a velha Península Ibérica.
Em 883 anos o mundo deu muitas voltas. Portugal é dos mais velhos do mundo.
Nasceu pequeno mas fez-se grande. Chegou a ser o maior Império do planeta.
Depois do Tratado de Tordesilhas, entrou em recessão. Somos hoje um país quase
falido, descontente pela saudade do passado. Temeroso pelo medo ao futuro.
Vamos, 883 anos depois, recomeçar de uma falência quase consumada. Seremos
dignos se imitarmos os nossos avoengos. Seremos indignos se não dermos as mãos
em prol do ressurgimento.
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