Mosaicos de Ciência e Cultura Transmontana
Por Barroso da Fonte
Publicação recuperada do NetBila, de 07 julho 2011
Foral de Lagoaça
Não é plágio, é elogio na hora certa e no lugar próprio
Durante o mês de Junho último vieram à luz do dia livros que valem ouro e que merecem palmas. De autores nacionais houve muitos. Mas como dos Transmontanos se fala pouco e daqueles falam muito as televisões, as rádios nacionais e jornais de elite, seja-me lícito falar de três exemplos de obras que abonam Trás-os-Montes e os Transmontanos, como os castanheiros da Terra Quente. António Manuel Pires Mosca surpreendeu tudo e todos, com a monografia de Monte de Arcas - uma aldeia da Montanha Transmontana, nos meados do século XX. Chamou a essas 450 páginas Quem me dera naqueles montes... Mais que uma monografia, é um tratado de sociologia rural, onde todos fazem de tudo e onde a moeda corrente é «hoje para ti, amanhã para mim». Tivesse o autor batido à porta de uma reitoria universitária a requerer a defesa deste original, como tese de doutoramento. Com uma certeza ficava: nenhum jurado poderia acusá-lo de não ser arquitectado e escrito pelo próprio António Mosca. Depois todos os restantes membros do júri ficariam deliciados com o manancial de informação etnográfica, linguística e campesina que enriquecem o dialecto regional. Esta obra vale uma nota mais detalhada.
Fica este apontamento para abrir o apetite. Valpaços soma e segue com autores de alto nível. António Chaves é barrosão e foi à guerra do Ultramar entre 1965/67. No regresso foi economista, empresário, docente universitário e, sobretudo, Barrosão de corpo e alma. Dar uma visão desse período por que passaram os jovens dessa década, nomeadamente os milicianos, meio século depois, é como sorver um gelado numa tarde de verão. Chamou a essas 350 páginas A Última Estação do Império.
Mas hoje queria falar de um livro diferente. Chegou pela mão de António Neto e na página 9 traz uma mensagem deliciosa, glosando António Gedeão. Na ficha técnica aparece como director deste projecto editorial, que o Doutor Armando Palavras coordenou e ambos deram à estampa. É uma obra de cinco estrelas que abre caminho a outros projectos e a outros criativos, que este palco geográfico nordestino criou e que os poderes políticos teimam em silenciar.
Urge encontrar outros mecenas, outros agentes culturais que, em vez de gastarem em comezainas e em fogo de artifício comemorativos de cronologias históricas, documentem a capacidade criadora daqueles a quem faltam palcos para exporem as suas ideias.
Foral de Lagoaça |
Esta obra de 400 páginas nasceu para comemorar os 725 anos da atribuição de foral à freguesia de Lagoaça, concelho de Freixo de Espada à Cinta. Foi D. Dinis, em 26 de Abril de 1286. António Neto e Armando Palavras deram esse louvável apoio à Junta de Freguesia. E engrandeceram o 725º aniversário que António Neto referencia por estas palavras: «esta obra tão sonhada, tão desejada, nasceu. O meu bem-haja, meu grande Amigo, “Mandocas”». E termina essa sua inicial mensagem: «aos meus amigos, aos meus conterrâneos, uma boa Festa e com o orgulho de serem Lagoaceiros, pois ser Lagoaceiro é ser capaz de vencer em qualquer parte e de sonhar, em ser o melhor». António Neto nasceu em Lagoaça em 1959. É empresário e vive no Porto. Armando Palavras nasceu em Angola, em 1960, sendo de ascendência transmontana. Aí estudou na primária e no ciclo, acabando o liceu no Porto. É docente e defendeu a tese de doutoramento em História, na área específica de História da Arte sobre «os tectos durienses (a iconografia religiosa setecentista nas pinturas dos templos da Região Demarcada)». Tem colaboração dispersa por várias publicações. Para colaborarem neste volume convidaram 73 autores Transmontanos e Alto Durienses, escrevendo, ora em prosa, ora em verso, consoante as suas preferências, sobre temática regional. Essa colaboração aparece distribuída pelas 400 páginas, por ordem alfabética. No final aparecem os currículos dos Autores, em 26 páginas. Mencionam-se os autarcas dessa mesma região, à data daquele aniversário, quer dos 12 concelhos de Bragança, quer dos14 de Vila Real. Insere ainda os autarcas de quatro concelhos do Alto-Douro: Armamar, Lamego, S. João da Pesqueira e Vila Nova de Foz Côa.
Na primeira aba da capa publica-se o poema «Aos Poetas», de Miguel Torga. E na contracapa metem sete expressivas fotos. O autor da capa é Mário Teixeira. E, ao fundo da belíssima imagem, vem uma quintilha muito feliz: «Homens do dia-a-dia/ que levantem paredes de ilusão./ Homens de pés no chão,/ Que se calcem de sonho e de poesia/ Pela graça infantil da vossa mão.»
Uma colectânea demonstrativa da quantidade e qualidade de quem, nas entradas do século XXI, produziu obra que merecem o aplauso da comunidade.
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