Vamos ao minério!
Em algumas localidades do norte e centro de Portugal, as décadas de 1940/1950 foram tempos de forte exploração do minério, assim popularmente designado. O minério era o volfrâmio explorado, por exemplo, nas minas do Vale das Gatas, na freguesia de S. Lourenço de Ribapinhão, e é este que por diversas vezes referimos neste blogue.
Contam-se muitas estórias sobre o minério na freguesia de S. Lourenço de Ribapinhão, concretamente no lugar do Vale das Gatas, nessa altura da segunda grande guerra em que existia uma grande procura por via disso. O Volfrâmio era utilizado nas ligas das blindagens dos carros de combate, tornando-os muito resistentes, e também nos projéteis, dotando-os de uma maior capacidade de perfuração.
As estórias chegam-nos, de geração em geração, até aos dias de hoje, algumas de certo modo romanceadas, sem que se lhes retire em todas elas um fundo de verdade.
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Estórias exageradas? Muitos teriam ganho muito dinheiro, e também esbanjado descontroladamente |
Muito se diz sobre os “pilhas” –, os que pela calada da noite, fora da lei, abriam grandes buracos nas matas vizinhas da companhia mineira, extraindo quilos e quilos de volfrâmio, posteriormente vendido aos recetadores locais, que por sua vez o vendiam a outros grandes recetadores, nomeadamente na Timpeira, Vila Real. Muitos teriam ganho muito dinheiro, e também esbanjado descontroladamente, ao ponto de dizer-se que alguns gabarolas, pretendendo dar conta publicamente das suas riquezas, acompanhariam o caldo verde com pão-de-ló, em vez do tão saboroso pão de milho, servindo-se das notas de banco de maior valor como acendalhas de charutos que nem estavam habituados a fumar.
Estórias exageradas?
Estórias exageradas? Não se saberá, ao certo. No entanto, os mesmos factos ouvem-se não só na freguesia de S. Lourenço, mas também em outras localidades onde o volfrâmio era igualmente explorado.
O território da freguesia de S. Lourenço e dos arredores era concessionado e, por esse motivo, nem as juntas de freguesia nem as populações residentes, nem mesmo os proprietários dos terrenos tinham direito a realizar quaisquer explorações daquele minério – o volfrâmio – conhecido por “ouro negro”. De facto, o seu valor comercial era de tal maneira alto que seduzia qualquer um a efetuar o que naquele tempo chamavam “raitadas” ou rapinadas. Daí o termo “pilhas”, – participantes nessas rapinadas, que muitas vezes eram os próprios donos das terras, mas que, por lei, não as podiam explorar. A exploração apenas era permitida aos concessionários, isto é, às empresas com direitos de exploração e comercialização.
Os mineiros eram os mais sacrificados, mas também os homens e mulheres que na separadora e na lavaria preparavam as pedras do minério.
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